domingo, 30 de julho de 2017

A semente e a poesia



Aos poucos tudo se acaba
Em minha vista cansada pelo tempo
As cinzas se desfazem em um fino pó
Que voa pelo vento
Que some para além do além

Como um breve sopro
Tudo foi tão rápido e tão breve
Em um piscar de olhos
Ao nada para o vazio do nada

Nada fica por inteiro ou por completo
Como uma fantástica mágicas
Ao nível mais minúsculo possível
Tudo se desfaz e desaparece
A matéria que um dia que foi dinâmica se torna estática

Se meu mundo se desfaz ao meu redor
Como um castelo de areia que é sobrado
No final o que sobrará disso tudo?
Ao fim de tudo o que restará?

Minha carne estremecida de medo
Dilui em pó misturado ao solo que me sustenta
Meus ouros e meus bens
Aos poucos se tornam em algo insignificante
Se torna em mais um elemento para o universo

Se toda matéria que um dia existiu
Ao todo retorna de forma natural
Um fluxo continuo e ininterrupto
Um ciclo infinito universal

E a dúvida continua
O que sobrará de mim?

Minh’ alma nesse mundo já não mais habitará
Tudo aquilo que construí se tornará ruinas
As joias que juntei desintegrarão
E meu frágil corpo ao pó retorna

E o que sobrará?

No fim de tudo existirá apenas palavras
A poesia escrita em cada um que passei
A melodia que insisti em ecoar pelos cantos
Lembranças marcadas no mais íntimo do consciente

As fotos envelhecidas desfazem os momentos
Os papeis rasgados perdem o sentido da oração
As memorias digitam são corrompidas
Mas aquilo marcado em nossos espíritos é eterno
Aquilo dentro de nós é para sempre

As sementes que um dia lancei
Hoje são grandes árvores exuberantes
Suas folhas destacam-se dos galhos e caem como chuva
Como um breve adeus a minha presença

Em um eterno corredor de flores
Caminho em direção ao Eterno
As flores balançam na melodia do vento
Lembrando das sementes que lancei
Aquilo que deixei para trás

O que marquei em cada
A história que escrevi em cada um
A melodia que ainda entoa
A poesia marcada

O que sobrará é o que está na alma


Ermanno Noboru Medeiros