sábado, 20 de fevereiro de 2021

A tímida felicidade

 

É tão intrigante tal fato

A instável e mutável definição

Da felicidade em si

 

Muitas palavras são desprendidas

Para definir o seu conceito

Teorias e suposições são criadas

Porém nada tão certo ou solido

Apenas uma breve visão

 

Caminharemos por toda face da terra

E se necessário, voaremos no espaço sideral

Porém a felicidade em sua suma essência

Será algo como uma estrela no horizonte

Desejável...

Porém, intocável

 

A humanidade encontra-se fadigada

De tanto correr e não alcançar

De tanto cavar e não encontrar

De tanto procurar e não achar

A verdadeira felicidade

 

Com as mais simples palavras

Consigo entender que a felicidade é tão simples

Se não algo tímido em nossas vidas

A felicidade é como um rio

Cujas águas minam na nascente

E por onde passa, gera vida

 

Não desprezo os fatores externos

Eles hão de agregar em nossas alegrias

Mas a felicidade é algo interno

É algo que é gerado dentro de nós

 

A felicidade é proveniente do saber

Mas o saber é antagônico a felicidade

Quanto mais conheço, mais vejo sobre o vil mundo que vivo

E mais motivos há para tristeza

Mas diante disso, ainda prefiro o saber

O conhecer me faz enxergar que não dependo desse mundo

Mas dependo do que há dentro de mim

 

A tímida felicidade

Há de germinar em nós

E gerar vida por onde passar

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Eu desisti

 

Eu desisti

Desisti de várias coisas

Desisti de tentar

Desisti de insistir

 

Em sua essência mais profunda

A palavra desistir é algo pavoroso

Em nosso tempo

Algo repugnante

Mas reflexivamente

Algo necessário

 

A flor desiste de sua beleza

Para gerar um novo fruto

Que perpetue sua espécie

A semente desiste de manter suas reservas

Para que possa queimar

E gerar energia para a planta que virá

 

Os pássaros desistem do conforto do ninho

Para se aventurarem em novas terras

Para sentirem o vento contra seus rostos

 

Assim como na natureza

Eu desisti

 

Desistir de apostar todas as minhas fichas

Em lances tão incertos e obscuros

Para apostar na minha própria alma

 

Desistir de tentar entender

Tantas coisas ao mesmo tempo

Para viver o momento que se passa

 

Desisti de procurar a felicidade

Em tantas coisas frágeis e baratas

Para fazer afluir a felicidade em mim

 

Desistir de tentar me encaixar nos moldes do mundo

Que só me subestima e me exclui

Para aprender a me aceitar mais

 

Desistir de ouvir as falhas vozes sentimentais do meu coração

Que só me fazem trilhar a infelicidade

Para ouvir A Única voz que vem do céu

 

Desistir de procurar

O que o mundo me oferece

Para buscar um reino além do horizonte

Além do que meus olhos possam ver

 

Desisti da velha vida

Para viver uma nova

 

Uma nova vida

No reino dos céus

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

domingo, 14 de fevereiro de 2021

A Xícara Disposta

 

Certa vez, um barista, conseguiu grãos de café de alta qualidade da sua própria fazenda. O barista ansiosamente foi até uma cafeteria para preparar a bebida. Ao longo do caminho, imaginava como seria o sabor do café extraído.

O barista encontrou uma cafeteria em uma rua bastante movimentada da cidade. Ao adentrar o pequeno estabelecimento, seus olhos ficaram admirados com a infinidade de xícaras que havia na parede. Era uma enorme parede, vasta, com inúmeras xicaras; eram várias formas, cores e estilos.

O barista começou a percorrer a parede, tentando escolher uma xícara a qual pudesse acomodar a bebida quente. Porém, todas elas recuaram.

- Olá? Por qual motivo vocês estão recuando? – Indagou o barista.

- Não nos interprete mal, mas não julgamos adequado compor a sua bebida – Disse uma delas.

- Sim! Você não tem ideia das nossas histórias e de qual é a nossa origem! Como ousa vir com algo tão amargo e desprezável! – Falou outra xícara.

- Como assim? Esse é o melhor café que consegui fazer! – Respondeu o barista.

- Me usarei como exemplo! – Disse uma xícara com desenhos orientais – Sou um utensilio fabricando em uma terra distante! Fui utensilio de reis e governantes! Sou uma xícara utilizada apenas para chás nobres e em ocasiões especiais!

- E eu! – Disse uma azulada com algumas pedras – Fui utilizada por grandes figuras públicas! Pensadores e influenciadores! Só posso comportar vinhos caríssimos e da mais pura qualidade!

- Eu não consigo entender! Quer dizer que não há se quer uma xícara que possa compor meu café nessa cafeteria? – Disse o barista com o olhar perdido, enquanto todas as xícaras olhavam com desprezo para o barista.

- Senhor! – Uma voz baixa ecoou em uma parte baixa e empoeirada do armário.

- Quem disse isso? – Indagou o barista.

- Aqui senhor! – Enquanto falava, dentre as sombras e a espessa poeira, saia uma xícara branca, porém toda quebrada e trincada – Senhor, se não importar pelo meu estado, eu estou disposta para comportar sua bebida.

- Você? – Indagou novamente o barista.

- Não tenho um passado tão fantástico como minhas irmãs nessa parede. Estou quebrada e trincada. Mas como elas recusaram, eu me coloco a disposição! – Disse a pequena xícara quebrada.

- Espere! – Disse o barista – Admiro a sua disposição! Porém, você está quebrada. Se eu colocar meu café em você, toda a bebida irá se perder!

- Entendo bem. Me perdoa por qualquer coisa. – Disse a xícara retornando para seu lugar.

- Ei! – Falou o barista – Não disse para você ir! Só disse que agora você não está pronta!

Ao dizer tais palavras, o barista retirou da sua mochila uma barra de ouro. Ele carinhosamente pegou a xícara quebrada, levou para seu amigo, um ourives extremamente habilidoso. Ele derreteu o ouro e colocou cada parte da xícara quebrada.

Não foi um processo rápido, levou dias para que a obra estivesse completa. O ouvires fez questão de cuidar de cada pequeno detalhe.

Após o termino do reparo, o barista levou a pequena xícara novamente para cafeteria. Chegando na cafeteria, as demais xícaras estavam assustadas em ver o retorno da sua irmã.

O barista fez questão de preparar um bom café com seus grãos. Depositou a bebida na xícara e apreciou cada gole da bebida.

O barista então, colocou a pequena xícara em uma posição de honra na cafeteria, pois a quantidade de ouro empregada no reparo tornara aquela xícara mais valiosa que todas que haviam naquela cafeteria.

Após esse dia, todos os dias, o barista apreciava seus cafés com aquela xícara. A única xícara disposta!

 

 

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Pintura no céu

Olho para o imenso céu azul

Olho para as nuvens que navegam

O sol no infinito horizonte

Seus raios rasgando o véu azul

Deixando para trás uma tênue fumaça vermelha

 

Meus olhos se perdem em tanta admiração

Na admiração desse imenso quadro

Uma pintura genialmente elaborada

Por Mãos tão talentosas

Mãos que jamais erram

 

Em cada milímetro desse imenso céu

A perfeição descrita em cada detalhe

A mistura das cores

A mistura dos elementos

O talento indescritível

 

Em meu peito bate meu coração

Como jamais bateu

Batidas de esperança

Dos dias vindouros

 

O Autor dessa imensa pintura

Zelou e elaborou no imenso céu

Uma obra tão perfeita

O que dirá de mim?

O que dirá dos meus dias?

 

Haverá bocas que murmuram

Ao ver no horizonte as densas nuvens chuvosas

Mas devemos louvar e agradecer

Pois a água que cai é a que traz fruto no campo

E quando o céu abre

Revela sua imensa beleza

 

Ainda que o tempo seja em trevas

Lembre-se

O Eterno Autor está desenhando um belo céu

Ele está escrevendo uma bela historia

Na sua vida!

 

Lembre-se

O perfeito Deus que pintou o céu

É o mesmo perfeito Deus

Que escreve sua poesia de vida!

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Encontre-me

Entre os ensurdecedores tique e toque

Do apresado relógio pendurado

Minha voz perde a força

Se torna um silencioso grito

Um grito de socorro

 

Sei que por vezes a rotina nos guiou

Ditou as batidas do nosso acelerado coração

E como a morfina injetada na veia

O ativismo anestesiou nossa percepção

Tornou-nos alguém vivo

Porém mortos

 

Por dias gritei desesperadamente

Era desesperador ver todo aquele sangue jorrar

E olhar para você sem uma expressão de dor

Sem uma expressão de vida

Sem uma mísera reação

 

Não tardaria para vindoura ruina

Aos poucos a sombra do pânico invadia cada cômodo

Estrangulando cada pilar da nossa psique

Afundando em um imenso mar

O mar da angústia

 

Sem ar

Sem vida

Apenas a gélida mão da morte

Em um grito gutural de um animal ferido

Você clamava por paz

 

Olhe para mim!

Você perdeu o sentido

Perdeu o gosto

Perdeu seus sonhos

 

Ainda não é o fim

Ainda não é a hora

Ainda dá para sair daqui

Ainda dá para levantar a casa

 

Apenas encontre-me

Estou aqui te esperando

 

A jornada não será fácil

Levará tempo

Pois dentro de você há um imenso universo

Cheio de constelações

E você nunca se deu conta disso

 

As trevas que inundam seu interior

Lhe demonstram medo

Apenas mantenha a calma

A luz deve começar dentro de você

 

Em um mar agitado na sua alma

Em um turbilhão de ideias no céu

Respire fundo

Você é o autor desse mundo

Crie ondas que impulsione para mais a frente

Crie ventos que direcione aonde deva ir

 

Espero que você aprenda a me perdoar

Espero que você aprenda a me amar

Espero que você aprenda a me ouvir

 

Nunca fui seu inimigo

Nunca fui seu adversário

 

Precisamos lutar juntos

Precisamos estar em sintonia novamente

 

Mergulhe fundo dentro de si mesmo

Explore o seu universo

 

E

 

Encontre-me

 

 

Observação: Poesia escrita quando o meu eu aprendeu a perdoar e amar o meu eu.

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros