domingo, 14 de fevereiro de 2021

A Xícara Disposta

 

Certa vez, um barista, conseguiu grãos de café de alta qualidade da sua própria fazenda. O barista ansiosamente foi até uma cafeteria para preparar a bebida. Ao longo do caminho, imaginava como seria o sabor do café extraído.

O barista encontrou uma cafeteria em uma rua bastante movimentada da cidade. Ao adentrar o pequeno estabelecimento, seus olhos ficaram admirados com a infinidade de xícaras que havia na parede. Era uma enorme parede, vasta, com inúmeras xicaras; eram várias formas, cores e estilos.

O barista começou a percorrer a parede, tentando escolher uma xícara a qual pudesse acomodar a bebida quente. Porém, todas elas recuaram.

- Olá? Por qual motivo vocês estão recuando? – Indagou o barista.

- Não nos interprete mal, mas não julgamos adequado compor a sua bebida – Disse uma delas.

- Sim! Você não tem ideia das nossas histórias e de qual é a nossa origem! Como ousa vir com algo tão amargo e desprezável! – Falou outra xícara.

- Como assim? Esse é o melhor café que consegui fazer! – Respondeu o barista.

- Me usarei como exemplo! – Disse uma xícara com desenhos orientais – Sou um utensilio fabricando em uma terra distante! Fui utensilio de reis e governantes! Sou uma xícara utilizada apenas para chás nobres e em ocasiões especiais!

- E eu! – Disse uma azulada com algumas pedras – Fui utilizada por grandes figuras públicas! Pensadores e influenciadores! Só posso comportar vinhos caríssimos e da mais pura qualidade!

- Eu não consigo entender! Quer dizer que não há se quer uma xícara que possa compor meu café nessa cafeteria? – Disse o barista com o olhar perdido, enquanto todas as xícaras olhavam com desprezo para o barista.

- Senhor! – Uma voz baixa ecoou em uma parte baixa e empoeirada do armário.

- Quem disse isso? – Indagou o barista.

- Aqui senhor! – Enquanto falava, dentre as sombras e a espessa poeira, saia uma xícara branca, porém toda quebrada e trincada – Senhor, se não importar pelo meu estado, eu estou disposta para comportar sua bebida.

- Você? – Indagou novamente o barista.

- Não tenho um passado tão fantástico como minhas irmãs nessa parede. Estou quebrada e trincada. Mas como elas recusaram, eu me coloco a disposição! – Disse a pequena xícara quebrada.

- Espere! – Disse o barista – Admiro a sua disposição! Porém, você está quebrada. Se eu colocar meu café em você, toda a bebida irá se perder!

- Entendo bem. Me perdoa por qualquer coisa. – Disse a xícara retornando para seu lugar.

- Ei! – Falou o barista – Não disse para você ir! Só disse que agora você não está pronta!

Ao dizer tais palavras, o barista retirou da sua mochila uma barra de ouro. Ele carinhosamente pegou a xícara quebrada, levou para seu amigo, um ourives extremamente habilidoso. Ele derreteu o ouro e colocou cada parte da xícara quebrada.

Não foi um processo rápido, levou dias para que a obra estivesse completa. O ouvires fez questão de cuidar de cada pequeno detalhe.

Após o termino do reparo, o barista levou a pequena xícara novamente para cafeteria. Chegando na cafeteria, as demais xícaras estavam assustadas em ver o retorno da sua irmã.

O barista fez questão de preparar um bom café com seus grãos. Depositou a bebida na xícara e apreciou cada gole da bebida.

O barista então, colocou a pequena xícara em uma posição de honra na cafeteria, pois a quantidade de ouro empregada no reparo tornara aquela xícara mais valiosa que todas que haviam naquela cafeteria.

Após esse dia, todos os dias, o barista apreciava seus cafés com aquela xícara. A única xícara disposta!

 

 

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

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