quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Tá tudo bem!

Tá tudo bem!

Mentira nossa de cada dia

Vivida sistematicamente

Automatizada na fala

O comum do cotidiano

Naturalmente normal igual

 

Todo dia o dia todo

O eterno repeat

O loop que não acaba

A mesma figurinha no pacote

O mesmo dizer emitido

A mesma fala falada

 

Tá tudo bem!

Repito constantemente

Em todo instante

Em todo momento

Em todos os olhares

Em todas as questões

 

Tá tudo bem!

Tá tudo bem!

Tá tudo bem!

 

Não tá nada bem!

 

O sorriso em ruinas

O berro silencioso

A suplica e a clemencia

Que jamais será ouvida

Ou percebida

 

A explosão contida

O teto da casa que é segurado

Os pilares trincados

O coração inchado

 

Se alguém me ouvisse

Escondido na alegria

Escondido no sorriso

Um abafado grito de socorro

 

A vontade imensa

Da liberdade

Da fala segurada

Das lagrimas contidas

A vontade de pedir ajuda

O desejo pela boia no mar

Da corda para escalar

 

Quero asas para voar

Para longe dos meus ferrolhos

Para bem longe da minha gaiola

Para longe de mim

 

Talvez

Bem lá no fundo

Na pura essência

Não deve ser tão ruim assim

Dizer que não está bem

 

É...

Talvez

Não seja tão ruim ser humano

 

 

 

Ermanno Noboru Medeiros

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