Eu estava em frente ao seu tumulo dando uma ultima
olhada quando George se aproximou e
falou:
- E então Marcos, valeu a pena?
Segurei firme uma rosa em minha mão, olhei
fixamente para o tumulo, respirei bem fundo e disse firme:
- Valeu a pena!
Ainda me lembro daquele dia: parecia um dia tão
normal, acordei com o som do despertador e olhei para o meu lado, vi a mulher
mais bela que já tinha visto na minha vida, e seu nome era Rebeca. Ela já
estava acordada há algum tempo e me fez levantar rápido. Enquanto me arrumava
para o trabalho, ela estava na cozinha fazendo o café da manha. Desci e a
encontrei na cozinha junto com a segunda mulher que mais amava: Sara, minha
filha.
Percebi que Rebeca estava com uma expressão de dor
e a perguntei o que era, mas ela falou que era apenas uma dor nas costas. Antes
de sair para o trabalho prometi que a levaria ao médico assim que eu chegasse.
Fui para o trabalho, mas não conseguia parar de
pensar em minha esposa, estava com medo do que poderia ser aquela dor. Meu dia
foi estressante na firma, parecia que quanto mais eu precisava de um tempo para
ficar a sós, mais surgiam problemas e trabalho.
Quando sai do trabalho fui rapidamente para casa.
Quando cheguei me assustei, pois vi Rebeca caída no chão e sua expressão de dor
era mais intensa. Peguei-a e a coloquei no carro, fui o mais rápido possível
para o hospital de minha cidade.
Chegando ao hospital, fui à recepção e pedi que a
enfermeira chamasse um médico o mais rápido possível, estava desesperando,
talvez estivesse com medo. A enfermeira pediu que eu me acalmasse, mas era
difícil, ainda mais ao ver Rebeca sofrendo daquele jeito.
Logo o médico que estava de plantão chegou e
ordenou que levassem Rebeca para um quarto e a internassem o mais rápido
possível. Perguntei ao médico o que aquilo poderia ser. Ele respondeu que ela
precisava passar por uma bateria de exame para que pudesse me dar um
diagnóstico e que no momento eu deveria voltar para casa e buscar itens de
higiene pessoal e roupas de Rebeca, pois ela deveria passar por um tempo no
hospital.
Cheguei em casa meio tonto. Sara estava com minha
irmã, então peguei tudo o que tinha que levar, coloquei no carro e fui em
direção ao hospital. Queria chorar, mas sentia que eu devia ser forte.
Apesar de aquela noite ter sido longa eu precisava
ir ao trabalho, estava com a aparência abatida. George havia percebido que eu não
estava legal. Perguntou o que havia acontecido, expliquei a ele sobre a atual
situação de Rebeca. George tentou me animar, começou a falar que não seria nada
de mais, que seria apenas uma hérnia e logo ela estaria melhor. Tentei sorrir
um pouco, mas era difícil.
Passados dois dias que Rebeca estava internada os
resultados dos exames chegaram e eu estava ansioso, tinha medo de ver o
resultado, porém também estava curioso. O médico que acompanhava o caso da
Rebeca me levou até uma sala, fechou a porta e fez sinal para que eu me sentasse,
colocou um copo de água na minha frente, sentou em sua cadeira e com um olhar
meio desconsolado, tomando coragem me olhou e disse que eu precisava ser forte.
Naquele momento senti que aqueles resultados não seriam agradáveis. Ele olhou
para os papeis, me olhou novamente e disse:
- Sua mulher está com câncer na coluna vertebral!
Por um segundo parecia que eu havia perdido o chão,
estava flutuando, aquilo veio como um soco. Minha voz não conseguia sair. Ele
falou que eu precisava ser forte. Perguntei se ela sobreviveria ou se havia
algum meio de salvá-la. Foi quando percebi que ele hesitava em me responder.
Ele falou que o câncer de Rebeca havia atingindo um ponto critico, o tumor
havia crescido e se alastrado por boa parte da coluna de Rebeca e que por tal
motivo ela não conseguia andar. Ele falou que Rebeca talvez não sobrevivesse. Perguntei
para ele se não havia algum método, se o problema fosse dinheiro, eu dava um
jeito de conseguir. Ele falou que o processo de quimioterapia seria o mais
adequado, pois uma cirurgia poderia danificar ainda mais a coluna de Rebeca e
que mesmo que o processo
da quimioterapia surtisse efeito, Rebeca podia não voltar a andar.
Sai do consultório e fui para casa para pegar mais
roupa para Rebeca, quando cheguei abri a porta da sala, sentei no chão e
comecei a chorar. Chorei como uma criança, as lagrimas escorriam pela minha face,
eu soluçava e tremia. Como gostaria que aquilo fosse um pesadelo e que logo
acordasse e tudo estivesse bem. Tinha medo de perder Rebeca, eu a amava muito.
No outro dia foi difícil trabalhar, não conseguia
entender o que os outros queriam, estava aéreo. George veio ao meu encontro e
perguntou o que havia acontecido, respondi sobre o resultado do exame. Ele
ficou sem reação, me falou que se precisasse de ajuda era só falar.
Roger, que era outro colega de trabalho, me chamou
para ir a um bar esquecer os problemas e refrescar a cabeça. Eu não queria ir,
não estava com a cabeça para estas coisas. Apesar disto ele ficou insistindo,
falando que eu estava abatido e precisava relaxar um pouco. Aceitei o convite
só porque George também iria. Eu não bebia e não fazia sentindo estar naquele
lugar, mas George convenceu-me a ir.
Enquanto estava naquele bar não conseguia parar de
pensar em Rebeca. Roger havia passado do limite e já falava besteiras. Sem que
eu percebesse, puxou-me para o seu lado e começou a apontar algumas mulheres
que estavam naquele bar, ele falava alto que elas eram gostosas e que eu
precisava “pegá-las”. No começou não entendi por que ele falava aquilo, foi
quando ele falou que Rebeca não duraria muito tempo e eu precisava escolher uma
mulher pra descontar os meus desejos sexuais. Ao ouvir isso, George puxou Roger
pelo braço e começou a gritar com ele. Ao ver aquela cena, decidi que o melhor
a fazer naquele momento era ir embora. Despedi-me do pessoal e pedi para o
George pegar leve com Roger, pois este já estava bêbado.
Cheguei em casa e comecei a pensar no que Roger
havia dito. Eu não queria outra mulher, queria Rebeca. Por mais que o médico
houvesse falado que talvez Rebeca não fosse sobreviver, eu ainda a amava e
queria cuidar dela. Não poderia deixa-la neste momento difícil, era agora que
Rebeca precisava da minha ajuda e do meu amor.
Os vinte dias que se passaram foram os mais
difíceis de minha vida. Visitava Rebeca todos os dias e sempre que podia levava
Sara comigo para ver Rebeca, sentia que Rebeca melhorava um pouco ao ver Sara. Aquele
triste quarto de hospital se enchia de alegria quando Sara entrava com seu
jeito alegre de criança. A maior parte dos enfermeiros gostava das visitas de
Sara. Ela sempre me fazia para na loja de flores para compra uma flor para
Rebeca.
Vi Rebeca perder os seus lindos cabelos negro pouco
a pouco. O processo de quimioterapia estava acabando com o seu corpo e a cada
dia ela ficava mais debilitada. Sua face estava bem abatida e pálida e para já
era mais difícil falar. Mas mesmo assim, quanto mais ela ficava fraca e abatida
mais eu sentia que deveria estar ao seu lado, mesmo que alguns amigos falassem
que eu deveria larga-la, eu não a deixaria agora. Eu amava muito Rebeca, não
iria deixa-la por nada neste mundo. Estaria ao seu lado, segurando a sua mão e
torcendo para que ela saísse daquela situação.
Percebi algo em Rebeca, mesmo estando fraca, toda
vez que ela me via, ela sorria e seu sorriso continuava o mais belo que eu já havia
encontrado no mundo.
O médico falou que eu deveria passar mais tempo ao
lado de Rebeca, pois o processo de quimioterapia não estava surtindo efeito e o
câncer já estava em proporções gigante. Era só uma questão de tempo até que ela
falecesse.
Lembro-me do ultimo dia. Senti que aquele era o
ultimo dia assim como Rebeca sentiu. Foi quando com os olhos semiabertos,
Rebeca lutava para continuar ao meu lado, ela falou com sua voz fraca e falha:
- Achei que você não fosse ficar até o fim, desculpe-me
amor, mas eu só te dei trabalho. Desculpe por te fazer sofrer.
- Você não precisa se desculpar Rebeca! Eu estive
aqui do seu lado todo este tempo porque eu te amo Rebeca! Eu te amo Rebeca! –
Quando falei isso, não aguentei, as lagrimas começaram a rolar por minha face.
- Obrigado Marcos por me amar mesmo sendo
defeituosa! Eu te amo Marcos!
Naquela hora vi uma lagrima escorre dos olhos dela
e eles foram se fechando lentamente, foi quando eu percebi que ela já não
estava mais aqui. Abaixei a cabeça e comecei a chorar.
O funeral foi triste, Rebeca era uma mulher jovem e
muito bela. Sara chorava muito e minha irmã tentava consolá-la. Todos que
estavam ali falavam a mesma coisa: como uma mulher tão bela poderia morrer tão
cedo. Ouvi algumas pessoas comentando, que eu nunca sai de perto de Rebeca e
que nunca a abandonei.
Quando finalmente haviam enterrando o seu corpo,
todos começaram a se retirar. Fiquei um tempo olhando o seu tumulo e segurando
uma rosa, comecei a lembrar das flores que Sara me fazia levar para Rebeca,
lembrei-me de vários momentos que passei ao seu lado, desde o dia em que nos
conhecemos, até o nosso casamento. O dia que descobrimos que Rebeca estava
grávida da Sara, até o nascimento da nossa querida filha. Foram tantos
momentos, tentei fazer do nosso casamento algo inesquecível, a amei e respeitei,
a fiz se sentir especial e mesmo quando fiquei sabendo que ela estava doente,
não quis sair do seu lado, queria que ela se sentisse amada mesmo na despedida.
Confesso que passamos por momentos ruins, tivemos brigas, algumas discussões,
mas sempre procurei pedir perdão e perdoar.
Nesse momento, George chegou e perguntou:
- E então Marcos, valeu a pena?
Lembrei-me de tudo que eu e Rebeca tínhamos passado
juntos, olhei para o céu e lembrei-me de nossa ultima conversa. Então respondi:
- Valeu a pena estar ao seu lado!
Ermanno Noboru Medeiros
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